As diversas informações diretas e indiretas obtidas com o exame permitirão ao médico especialista estabelecer um perfil do padrão individual da hemodinâmica encefálica de cada paciente, inclusive o risco estimado de cursar com um AVC futuramente.
Dr. Eric Homero Albuquerque Paschoal
O QUE É O EXAME DE DOPPLER TRANSCRANIANO?
O Doppler transcraniano (DTC) ou Ultrassom Doppler transcraniano (UDTC) é um exame não invasivo e de uso cada vez mais comum na prática médica, nos principais centros neurológicos, como método neuro-diagnóstico (figura 1).
O exame é consagrado em grandes centros como parte da rotina diagnóstica de determinadas doenças, bem como complementa as ferramentas diagnósticas da propedêutica dos neurologistas e neurocirurgiões, tal como o estetoscópio está para o cardiologista (figura 2). O DTC permite a avaliação rápida e a beira do leito da circulação arterial do cérebro, de forma eficiente e segura.
O método deve ser realizado por um médico especializado, com experiência nas diversas doenças e situações em que pode ser utilizado. Entre suas características possui a portabilidade e a não invasibilidade, com isso pode ser realizado tanto a nível ambulatorial como hospitalar, assim como ser repetido diversas vezes quanto necessitar. Tanto com a finalidade clínica diagnóstica como auxílio a terapêutica cirúrgica*.
QUAL A IMPORTÂNCIA DO EXAME?
O exame avalia na beira do leito o fluxo sanguíneo cerebral, sendo confortável e sem riscos ao paciente. Permite uma análise em tempo real da hemodinâmica encefálica de forma funcional, inclusive informações da microcirculação cerebral. E por este motivo possibilita com baixo custo a tomada de decisão terapêutica de forma individualizada e em tempo real.
COMO É REALIZADO O DOPPLER TRANSCRANIANO (DTC)?
A técnica introduzida na prática clínica por Aaslid (1982) permite através de um aparelho específico com sonda ou transdutores de baixa frequência (1-2 MHz) o que permite atravessar a caixa craniana e avaliar o fluxo sanguíneo das principais artérias intracranianas.
As diversas informações diretas e indiretas obtidas com o exame permitirão ao médico especialista estabelecer um perfil do padrão individual da hemodinâmica encefálica de cada paciente, inclusive o risco estimado de cursar com um AVC futuramente.
O método pode ser realizado em qualquer faixa de idade, para avaliar a circulação cerebral. Porém cerca de 5 – 10% dos pacientes possuem uma dificuldade de obter o sinal sonográfico na janela temporal.
QUAIS TESTES PODEM SER REALIZADOS COM ESTE MÉTODO?
Teste da Reatividade Vasomotora Cerebral:
Permite avaliar a capacidade de resposta da circulação cerebral, medindo-se as alterações nas velocidades do fluxo sanguíneo em resposta à injeção de acetazolamida, teste da apnéia e hiperventilação ou inalação de CO2.
Com esta análise é possível avaliar a microcirculação cerebral, permitindo obter dados essenciais que irão informar o quanto o cérebro é capaz de responder rapidamente às situações de falta de sangue conseguindo resistir por um maior período tempo nas situações em que isso possa ocorrer.
Teste para Detecção de Êmbolo:
O uso de programas específicos permite discriminar material embólico (sinais de microêmbolos) durante a monitorização do fluxo sangüíneo pelo DTC#. Os sinais de microêmbolos (SME) ou microembolic signals (MES) são definidos como sinais de alta intensidade e curta duração, predominantemente unidirecionais, visíveis e audíveis, e que apresentam um som característico. Para a quantificação destes sinais ultra-sonográficos é necessária a realização de monitorização das artérias intracranianas, mais freqüentemente das artérias cerebrais médias.
Teste com Solução Salina Agitada para Detecção da Comunicação Venosa-Arterial:
Durante a monitorização da velocidade do fluxo sangüíneo na artéria cerebral média, uma injeção de solução salina agitada (9 ml de solução salina e 1 ml de ar) pode ser feita em veia periférica do membro superior direito.
Após poucos segundos, são observados sinais ultra-sonográficos no DTC nos casos em que há comunicação venosa-arterial), simulando a via paradoxal da embolia cerebral. A manobra de Valsalva aumenta a sensibilidade na detecção de SME nestes pacientes.
Este em conjunto com o ecocardiograma transesofágico (EcoTrans) são os métodos capazes de detectar uma causa frequente de AVC, a persistência do forâmen oval (PFA) o que pode estar presente em até 20% da população. O método da DTC possui a vantagem em relação ao EcoTrans, pois não é invasivo e não necessita de anestesia para ser realizado.
Teste Complementar da Morte Encefálica:
Segundo a última resolução do CFM/2017 representa um dos principais métodos de diagnóstico complementar para conclusão do protocolo de morte encefálica avaliando o fluxo sanguíneo cerebral e assim ratificando ou não a parada circulatória encefálica.
QUAIS AS INDICAÇÕES DO EXAME DE DOPPLER TRANSCRANIANO (DTC)?
Em 2000, Babikian e col. demonstraram em uma revisão científica as diversas utilidades do método neurodiagnóstico com seus níveis de evidência e de recomendação no uso.
Entre as doenças que podem ser avaliadas existe a capacidade de ser um método de fácil acesso, a ser realizado em qualquer local, com resultados individualizados e fazer parte de um dos exames preventivos a serem realizados durante o check-up neurológico. Suas indicações para investigação são:
1.No Acidente Vascular Cerebral Isquêmico:
• Estenoses/oclusões nas artérias intracranianas de causa ateroesclerótica ou inflamatória;
• Estenoses ou oclusões nas artérias extracranianas, avaliando de forma indireta a circulação colateral;
• Vasculites e arterites;
• Embolias cerebrais de origem artério-arterial ou cardíaca (monitorização durante procedimentos);
• Fase aguda do AVC durante a Trombólise no momento da infusão da medicação ou após para avaliar o grau de desobstrução;
• Anemia falciforme ou traço falcêmico com o monitoramento quanto a necessidade de transfusão de sangue, bem como a possibilidade de evolução para isquemia.
2. Na Avaliação do Traumatismo de Crânio:
• Hipertensão intracraniana, a fim de auxiliar nas fases evolutivas de situações não submetidas a cirurgia, auxiliando para terapêutica durante a sedação;
• Após cirurgias para hematomas intracranianos, monitorando as situações de autoregulação cerebral.
3. No Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico:
• Hemorragia subaracnoidea por aneurisma cerebral – o que é de extrema importância para monitoramento a beira do leito avaliando situações de inflamação e auxiliando condução do tratamento;
• Vasoespasmo cerebral após hemorragia por aneurisma.
4. Nas Cirurgias Neurológicas:
• Após cirurgias eletivas de by pass para estenoses intracranianas, para Doença de Moya Moya ou outras doenças proliferativas arteriais;
• Após cirurgias de aneurismas cerebrais;
• Após cirurgias de malformações arteriovenosas cerebrais.
5. Nas Situações Específicas:
• Na enxaqueca: as alterações nas velocidades do fluxo sanguíneo podem ser detectadas nos pacientes com enxaqueca. Assimetria das velocidades do fluxo sanguíneo podem ocorrer e a reatividade vasomotora também pode estar alterada durante o período de dor. Podem também ocorrer alterações das velocidades do fluxo sanguíneo durante o tratamento da enxaqueca;
• Nas tonturas, vertigens ou síncopes com o objetivo de descartar insuficiência vertebrobasilar devido estenoses ou síndrome do roubo da subclávia.