Conscientizar sobre a importância da atividade física para a prevenção de doenças vasculares que configuram como as principais causas de morte no Brasil, esse foi objetivo da 4ª Corrida e Caminhada de Combate ao Acidente Vascular Cerebral e ao Infarto Agudo do Miocárdio realizada neste domingo (12), no Parque do Utinga, em Belém. A programação esportiva foi promovida pelo Instituto AVC da Amazônia (IAVCA), Hospital da Aeronáutica de Belém (HABE) e Raptors Adventure, e teve 270 inscritos entre civis, profissionais de saúde e militares.
“O evento incentiva a atividade física regular, uma forte aliada no combate das doenças coronarianas (resultantes da obstrução das artérias que irrigam o coração) e das doenças cerebrovasculares (atingem os vasos do cérebro). Isso porque ajuda a fortalecer o músculo cardíaco, reduz o estresse, a pressão arterial e eleva os níveis de colesterol bom (HDL) e reduz os níveis de colesterol ruim (LDL), melhorando a circulação sanguínea. Em geral, recomenda-se que os indivíduos saudáveis pratiquem atividades com intensidade moderada, por no mínimo 30 minutos, a partir de três vezes na semana”, informou a presidente do Instituto AVC, Ângela Silva.
Cerca de 14 milhões de pessoas apresentam alguma doença cardiovascular e, pelo menos, 400 mil morrem anualmente no país. Aproximadamente 300 mil indivíduos sofrem Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) anualmente, ocorrendo óbito em 30% desses casos. E estima-se que até 2040 haverá aumento de até 250% desses eventos, segundo o Ministério da Saúde.
Outro foco da programação foi o acidente vascular cerebral, uma epidemia em ascensão com estatísticas alarmantes. “A cada quatro pessoas, uma é afetada em algum momento da vida. Por ano, são mais de 17 milhões de mortes no mundo. E, a cada uma hora, são registrados 11 óbitos por AVC, atingindo 6,5 milhões de mortes ao ano em todo o planeta. No Brasil, são registrados 400 mil casos e 100 mil mortes por ano, sendo acometidos mais os idosos e as comunidades em que a qualidade de vida e cuidados com a saúde são mais deficientes”, destacou o neurologista vascular do HABE, Prof. dr. Fernando Paschoal Junior.
O especialista explica ainda que “cerca de 90% dos casos de ambas as doenças podem ser evitados com a adoção de hábitos simples, como manter uma alimentação saudável, evitar fumar, além de fazer um acompanhamento médico, com exames para avaliar os níveis de colesterol, triglicerídeos e glicose no sangue, especialmente em pessoas que têm pressão alta ou diabetes. Também é imprescindível evitar o sedentarismo e a obesidade. Todos esses fatores reduzem o risco de desenvolver doenças que trazem tantas sequelas”, destacou.
O ex-atleta Manoel Leão, atualmente com 70 anos, sofreu um AVC aos 37 anos. Hoje convive com as consequências: um braço atrofiado e a falta de equilíbrio nas pernas. “Eu era ajudante de cozinha, estava preparando uma salada quando perdi o tato na mão esquerda. Deixei o tomate cair três vezes, quando cheguei no meio da cozinha a minha perna enfraqueceu e me levaram para o hospital”, contou.
Ele foi diagnosticado com um AVC hemorrágico e submetido a um procedimento de trombectomia para retirar o coágulo do cérebro. “Depois de 90 dias na UTI, fui transferido para o hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, onde fiquei dois anos internado. Voltei de lá com um aparelho na perna e retornei para o Rio de Janeiro, onde passei por muito tratamento com fonoaudiologia e fisioterapia. Passei a usar a bengala para me ajudar a equilibrar. Hoje considero que estou bem, viajo e participo de percursos de caminhadas”, disse.
Atendimento rápido é fundamental:
Fernando Paschoal Junior destaca que AVC e infarto são considerados problemas de saúde pública mundial, dada a magnitude epidemiológica, social e econômica, contudo podem ser tratados de forma eficaz quando diagnosticados rapidamente. “O tempo é fundamental para salvar essas vidas. Há terapias avançadas que permitem até deixar o paciente sem sequelas se chegar em tempo hábil no hospital referência. Ficar em casa nesses casos é risco de morte, não se pode retardar a ida ao hospital, ou vai a óbito ou ficará com sequelas para o resto da vida”, ressalta.
No caso do infarto, quando os sintomas são identificados por um terceiro ou pelo próprio paciente, tornam a assistência médica mais assertiva, aumentando as chances de sobrevivência. Dor no peito leve ou aguda e palpitações são sinais de alerta, deve-se procurar um atendimento de emergência para a avaliação com um eletrocardiograma e exames de sangue para descartar a possibilidade de infarto.
Patra Oliveira, 57 anos, sofreu um princípio de AVC em 2018 ocasionado por um aneurisma cerebral, naquele mesmo ano foi submetida a uma cirurgia cardíaca. Casada com o ex- atacante do Paysandu, Edil Highlander, ela recebeu o apoio do marido e dos filhos durante o processo de recuperação.
“Senti todo o lado esquerdo do meu corpo adormecer, não conseguia falar e nem andar direito. Perdi a força do lado esquerdo, mas graças a Deus estou viva”. Em breve ela passará por um novo procedimento. “Minha mulher ficou mais motivada, passou a se cuidar mais e valorizar a vida. Eu fico feliz por hoje estar bem depois de tudo o que ela passou”, afirmou Edil, que prestigiou o evento ao lado da esposa.
O acidente vascular também apresenta manifestações súbitas, como dificuldade de falar ou de força em um dos membros superiores ou inferiores, perda de sensibilidade, assimetria na face ou dormência em um dos lados do corpo. A dor forte de cabeça associada a vômitos, diferente de qualquer uma que possa ter apresentado anteriormente, é um grande indicador de derrame.
“Em caso de suspeita de um derrame cerebral, o 192 deve ser acionado. Não se deve ir à Unidade Básica de Saúde, mas a um hospital onde deve ser submetido ao exame de imagem, tomografia ou ressonância magnética do crânio para confirmar o diagnóstico e início do tratamento o quanto antes”, orientou Paschoal Junior.