Covid-19 pode aumentar a incidência de AVC.
Inflamações causadas pelo vírus podem formar coágulos sanguíneos
A ciência constatou que a infecção pelo vírus Sars-CoV-2 pode causar complicações neurológicas, a principal é o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou derrame. O vírus tem a capacidade de invadir o sistema nervoso e afetar as paredes dos vasos sanguíneos, iniciando um processo inflamatório que gera alterações de coagulação. Essa manifestação pode originar um AVC isquêmico ou hemorrágico, pois os distúrbios de coagulação podem levar a uma obstrução de algum vaso e desencadear uma isquemia cerebral, ou o rompimento de um vaso que resultará em uma hemorragia cerebral, que evoluem para uma lesão irreversível.
A cada ano, são registrados 400 mil casos e 100 mil mortes por AVC no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Estima-se, ainda, que uma em cada quatro pessoas terá a doença ao longo da vida. Porém, cerca de 90% dos casos poderiam ser evitados com medidas preventivas, tais como o controle da hipertensão arterial e da glicemia, evitar o tabagismo e a prática de atividade física regular.
O check-up cardiológico também é fundamental para fazer a prevenção cardíaca que ajuda a reduzir o risco de um derrame cerebral. As doenças coronarianas (resultante da obstrução das artérias), seguidas das doenças cerebrovasculares (atingem os vasos dos cérebros), são as principais causas de morte no país.
O médico neurologista vascular da Neurogenesis, Instituto de Neurociência, Fernando Paschoal, afirma que o Acidente Vascular Cerebral é mais suscetível de ocorrer em idosos que apresentam fatores de risco como diabetes e hipertensão. “O vírus Sars-CoV-2 é um gatilho para o desenvolvimento dessas patologias, porque existe uma descompensação a nível pressóricos e glicêmicos durante a infecção e na pós-infecção pelo novo coronavírus, em que há um aumento da coagulabilidade sanguínea decorrente da própria doença”, esclarece.
Segundo Fernando Paschoal, as chances de um paciente com covid-19 desenvolver um AVC, dependem da gravidade do estado clínico e do comportamento do organismo durante a infecção. De acordo com o especialista, os pacientes mais graves têm uma predisposição muito maior de desenvolver complicações neurológicas quando comparados a aqueles com sintomas mais leves.
“Outro fator que também devemos levar em consideração é o controle desse paciente em função dos seus fatores de risco. Os mais graves vão cursar com alteração da pressão arterial e aumento das taxas de glicemia. Esses indivíduos terão distúrbios de coagulação que vão favorecer não só lesões do pulmão, mas lesões de outros órgãos, como rins, paredes dos vasos, além lesões cardíacas e cerebrais. São fatores que favorecem que pacientes acometidos por covid evoluam com um AVC”, elucida Paschoal.
Os dados ainda não são precisos, variam a cada pesquisa, contudo, em média, de 20 a 25% dos pacientes com covid-19 podem cursar com complicações de AVC isquêmico, porém ainda não se sabe se esta relação é direta ou indireta. “Pacientes mais idosos terão AVC se não houver controle dos seus fatores de risco, no entanto quando são mais jovens pode-se pensar que umas das possíveis causas foi a covid, realmente, caso não haja causa identificada. Em torno de 15% dos enfermos com covid cursam com AVC hemorrágico em que há um rompimento de uma artéria ou veia que vai sangrar”, pontua o especialista.
Paschoal acrescenta, ainda, que, mesmo diante de um cenário de pandemia, caso o paciente apresente manifestações súbitas, como dificuldade de falar ou de força em um dos membros superiores ou inferiores, assimetria na face ou dormência em um dos lados do corpo, ou dor de cabeça associada a vômitos diferente de qualquer uma que possa ter apresentado anteriormente, pode estar diante de um Acidente Vascular Cerebral.
“Na presença de sinais de alarme, deve-se procurar atendimento o mais breve possível. Nesses casos não se pode seguir a recomendação do ‘fique em casa’, o paciente ou o familiar deve buscar assistência imediatamente. Assim como pode ser prevenido, o AVC pode ser tratado e o tempo é fundamental para que se possa salvar a vida deste indivíduo e reduzir as sequelas, tempo é cérebro”, alerta.
Em caso de suspeita de um derrame cerebral, o 192 deve ser acionado. Ao chegar em um pronto atendimento ou hospital, o paciente deve ser submetido ao exame de imagem, tomografia ou ressonância magnética do crânio, e também a uma tomografia de tórax devido à vigência da pandemia da covid-19. Mas é provável que os sintomas de AVC só ocorram na fase mais tardia da covid e não no início da doença inflamatória.
O neurologista vascular recomenda que os pacientes não procurem as Unidades Básicas de Saúde, essas não possuem exame adequado para o diagnóstico. Segundo ele, “antes de receber a medicação, é imprescindível a realização do exame de imagem para confirmar os sinais”, por isso a importância de buscar atendimento em hospital que dispõe de tomografia para confirmar a suspeita de AVC.
Ele também destaca que as políticas públicas reforçam as medidas restritivas contra a pandemia, contudo não alertam para outras doenças graves que levam ao óbito, como as patologias coronarianas e cerebrovasculares. “Ficar em casa nesses casos é risco de morte, o paciente precisa entender que não pode retardar a ida ao hospital, ou vai a óbito ou ficará com sequelas para o resto da vida. Não precisa ter medo, os protocolos de segurança são seguidos para o diagnóstico ou tratamento das enfermidades”, adverte.