A descoberta fornece informações sobre a preservação de partes moles em fósseis, pois a maioria dos animais fossilizados é composta por partes como ossos, dentes e conchas
Uma tomografia computadorizada do crânio de um peixe fossilizado de 319 milhões de anos revelou uma descoberta impressionante. Trata-se do cérebro mais antigo e preservado de um animal com espinha dorsal. O achado arqueológico foi retirado de uma mina de carvão na Inglaterra há mais de um século.
O cérebro e os nervos cranianos medem cerca de 2,5cm de comprimento e pertencem a um peixe extinto do tamanho de uma guelra azul. Segundo os pesquisadores da Universidade de Michigan, a descoberta fornece informações sobre a preservação de partes moles em fósseis de animais vertebrados, pois a maioria dos animais fossilizados foi formada por partes como ossos, dentes e conchas.
O cérebro analisado por meio da tomografia pertence ao peixe primitivo Coccocephalus wildi, que provavelmente se alimentava de pequenos crustáceos, insetos aquáticos e cefalópodes (o que incluiu lulas e polvos). Ele tinha nadadeiras raiadas, ou seja, as espinha dorsal e barbatanas eram sustentadas por hastes ósseas chamadas raios.
Durante o processo de fossilização, os tecidos moles do cérebro e os nervos cranianos foram substituídos por um mineral denso que preservou a estrutura tridimensional, com amplos detalhes. “Uma conclusão importante é que esses tipos de partes moles podem ser preservados e podem ser preservados em fósseis que temos há muito tempo – este é um fóssil conhecido há mais de 100 anos”, disse o paleontólogo Matt Friedman.
Os cientistas acreditam que quando o peixe morreu, ele foi rapidamente enterrado em sedimentos com pouco oxigênio, fato que pode ter contribuído para retardar a decomposição das partes moles do corpo. Além disso, os autores do estudo sugerem a existência de um microambiente químico dentro da caixa craniana.
“Parece haver, dentro desse vazio bem fechado no crânio, um pequeno microambiente que é propício para a substituição dessas partes moles por algum tipo de fase mineral, capturando a forma dos tecidos que, de outra forma, simplesmente se decomporiam”, disse Friedman.
“Ao contrário de todos os peixes vivos com nadadeiras raiadas, o cérebro do Coccocephalus se dobra para dentro. Portanto, este fóssil está capturando um tempo antes da evolução da característica dos cérebros de peixes com nadadeiras raiadas. Isso nos fornece algumas restrições sobre quando essa característica evoluiu – algo que não tínhamos um bom controle antes dos novos dados sobre Coccocephalus”, emendou o pesquisador.
Descoberta inesperada
A descoberta do cérebro preservado foi bastante inesperada. Isso porque os pesquisadores estavam utilizando tomografia computadorizada para obter informações sobre as relações evolutivas dos primeiros peixes com nadadeiras raiadas. “Eu digitalizei, depois carreguei os dados no software que usamos para visualizar essas varreduras e notei que havia um objeto distinto e incomum dentro do crânio”, disse Friedman.
Esse objeto era uma ‘bolha’ que aparecia mais brilhante na imagem computadorizada, o que poderia indicar que se tratava de uma estrutura densa. Além disso, o objeto apresentava característica de cérebros de vertebrados: bilateralmente simétrico, continha espaços ocos semelhantes em aparência aos ventrículos e tinha múltiplos filamentos que se estendiam em direção a aberturas na caixa craniana.
“Ele tinha todas essas características, e eu disse a mim mesmo: ‘É realmente um cérebro que estou vendo?’ Então, ampliei aquela região do crânio para fazer uma segunda varredura de alta resolução, e ficou muito claro que era exatamente o que tinha que ser. E foi apenas porque esse era um exemplo inequívoco que decidimos levá-lo mais longe”, comentou o pesquisador.
Os autores da pesquisa ressaltaram a importância da preservação de espécimes em museus de paleontologia e zoologia, já que o fóssil foi descoberto há 100 anos. “Aqui encontramos preservação notável em um fóssil examinado várias vezes antes por várias pessoas ao longo do século passado”, frisou o Friedman.
FONTE: revista Nature.