Procedimento foi transmitido simultaneamente para três países através do telemonitoramento.
Pela primeira vez nas regiões norte e nordeste do Brasil, a tecnologia integrada Skill Assist foi utilizada no tratamento de um aneurisma cerebral na rede estadual de saúde pública. A intervenção ocorreu nesta segunda-feira (10), no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), localizado no distrito de Icoaraci, em Belém. A técnica foi transmitida em tempo real a três países: Estados Unidos para o monitoramento do fabricante do dispositivo e, ainda, para o Global USA, França e Austrália, um grupo de estudo da área de neurorradiologia intervencionista mundial.
A operação ocorreu em conjunto com a equipe médica do Hospital Ophir Loyola, unidade onde a paciente já trata o aneurisma, classificado pela medicina como gigante. A cirurgia é um dos mais modernos procedimentos endovasculares de alta complexidade. Esta intervenção cirúrgica já foi realizada no Estado seis vezes, com outros dispositivos menos modernos e com mais riscos de insucesso cirúrgico. No entanto, nunca foi usada a tecnologia assistida, sendo, esta, a pioneira no Pará.
Caso o Governo do Estado, através da Secretaria de Saúde Pública do Estado (Sespa), não viabilizasse esta técnica, a cirurgia convencional seria aberta com necessidade de reconstrução do vaso afetado, no entanto, a morbidade e a chance de mortalidade são muito mais altas. “Esta paciente estava desde 2016 aguardando o procedimento. Nesta gestão, o Governo do Estado não mediu esforços para a realização da intervenção de forma menos danosa à paciente. Quando conseguimos, as cirurgias foram suspensas devido à pandemia, mas, agora, esse esforço se tornará uma realidade”, detalhou Rômulo Rodovalho, titular da pasta.
A intervenção durou quase duas horas e a paciente apresenta uma boa recuperação. No entanto, antes do início do procedimento, a equipe multiprofissional das duas unidades – composta de 20 profissionais – fez o ensaio com um simulador de vasos, para a aplicação da técnica.
Caso – A moradora do município de Abaetetuba, nordeste do paraense, Crisomar Pinheiro, de 64 anos, caiu e bateu a cabeça, em sua casa, em 2015. Ela ficou 45 dias internada, após passar por vários procedimentos cirúrgicos. Um ano mais tarde, a paciente sentiu uma forte tontura, foi quando recebeu o diagnóstico de aneurisma cerebral. “Estou confiante que tudo vai ocorrer bem, vou sair sã e salva e voltar para minha casa e fazer as minhas coisas, gosto de costurar”, disse a aposentada.
A paciente estava acompanhada de sua filha, Cleidiane Pinheiro, de 38 anos. “Minha mãe vem sofrendo muito depois dessa queda. Hoje, usa uma prótese na perda, sente dores constantes e tontura. Com ajuda de Deus e dessa cirurgia, cremos que tudo isso vai passar e ela voltará a ter uma vida normal”, comemorou. Após a intervenção, Crisomar foi para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e deve receber alta até quarta-feira (12).
Tecnologia – Na intervenção, a empresa fabricante do stent disponibilizou um instrutor (proctor) à distância, que estava nos Estados Unidos, por meio da tecnologia 5G para assistir intervenção. O coordenador médico do Abelardo Santos, Carlos Meneses, explica sobre o intercâmbio de tecnologia. “Através de um esforço do Governo do Estado foi garantido o uso do mecanismo que ainda não é oferecido pelo SUS. Assim, foi estabelecida uma parceria com a fabricante para fazer a troca de tecnologia e de conhecimento. Essa cirurgia foi realizada através de transmissão internacional. O grande diferencial desse procedimento é que ele oferece uma segurança e uma precisão maior ao paciente, reduzindo as chances de sequelas”, detalhou o médico.
O diretor técnico Abelardo Santos, Paulo Henrique Ataíde, reforçou a importância da tecnologia, sobretudo, neste período pandêmico que o mundo atravessa. “A essa tecnologia é fundamental, não apenas pelo encurtamento da distância, mas também para salvar vidas. Hoje, o paraense pode contar com o HRAS, desde as consultas de especialidades, até para os procedimentos de alta complexidade”, frisou.
Paulo Henrique também ressaltou que nesta nova gestão, assumida pelo Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia – ISSAA, em março deste ano, o trabalho na instituição tem sido no sentido de viabilizar todas as demandas represadas devido à pandemia. “Com passar do pico, voltamos às especialidades e às cirurgias eletivas. Neste ano, 62 procedimentos de neuro já foram realizados no Hospital”, concluiu.
O especialista em neurocirurgia vascular e neurorradiologia de ambas as instituições, o Prof. Eric Paschoal, que coordenou o procedimento, acrescentou que houve o monitoramento das telas da sala cirúrgica. “O proctor (instrutor) a partir de outro país conseguiu manipular as câmeras e instruir o cirurgião em Belém. A partir do SKill Assist será transmitida aos principais centros de estudo do mundo”, esclareceu.
A técnica, minimamente invasiva, consiste na introdução de um cateter na região da virilha que é direcionado até à região do cérebro. Nessa localização, foi depositada um stent – uma espécie de malha tubular com fios flexíveis que reduzem a entrada de sangue na saculação e induz a trombose da mesma. Existem cinco tipos do dispositivo para uso no País, porém com a inclusão do novo stent, em função da pandemia, foi utilizada uma tecnologia de educação assistida a distância conhecida como Skill Assist.
“Preocupado com a situação dos pacientes, o governo tem adquirido stents para casos de alta complexidade, esperamos que os dispositivos se tornem mais acessíveis para que possamos ofertar a metodologia em larga escala”, afirmou o especialista.
A doença – Estima-se que 8% da população mundial têm um aneurisma cerebral que ocorre devido à dilatação da parede de uma artéria que irriga o cérebro. Origina-se, então, uma espécie de saculação, em forma de balão, que durante a ruptura ocasiona uma hemorragia que pode ser fatal em 40% dos casos e pode deixar sequelas em até 80% dos sobreviventes. As causas da doença neurológica são diversas, contudo, é frequente na região amazônica devido à relação da ancestralidade ameríndia, mais propensa a desenvolver a complicação.
O aneurisma normalmente é assintomático, porém quando a disfunção é considerada gigante possui tamanho superior a 2,5 cm e pode comprimir algumas áreas importantes e provocar alguns sintomas como dor de cabeça, visão borrada, dormência ou paralisia de um lado da face.
Texto: Roberta Paraense (Ascom/ HRAS), com colaboração de Leila Cruz (Ascom/HOL) em uma participação da Leila Cruz, do HOL.
Por: Governo do Pará (SECOM)