Em 1817, o médico londrino James Parkinson identificou e descreveu um distúrbio que ele denominou paralisia agitante. Passariam seis décadas até que o conhecido neurologista Jean-Martin Charcot sugerisse o uso do termo doença de Parkinson para designar uma enfermidade do SNC (Sistema Nervoso Central), cujos principais sintomas são lentidão, tremor, rigidez e instabilidade postural.
Essa condição acomete 1% da população acima dos 60 anos de idade, em especial os homens, mas também pode se manifestar na juventude, o que é mais raro.
Para boa parte dessas pessoas, as causas do Parkinson são desconhecidas, mas os dados científicos disponíveis no momento indicam que ela pode ser consequente à combinação de fatores genéticos e ambientais.
Embora se trate de uma doença crônica neurodegenerativa, a sua evolução, em geral, é lenta. Assim, o tratamento tem como objetivo manter, o quanto possível, a qualidade de vida do paciente, com estratégias terapêuticas interdisciplinares que incluem atividade física, uso de medicamentos, fisioterapia e até cirurgia —tudo para reduzir sintomas e efeitos colaterais da doença e das medicações.
Entenda a Doença de Parkinson
Trata-se do tipo mais comum de parkinsonismo, um grupo de distúrbios neurológicos cujas características são sintomas como lentidão, tremor e rigidez.
Considerada uma enfermidade crônica degenerativa, é progressiva. Isso significa que ela persiste e avança com o tempo e suas manifestações tendem a piorar.
Por que isso acontece?
A doença de Parkinson decorre da morte acelerada de alguns neurônios específicos —os dopaminérgicos— que produzem o neurotransmissor dopamina, relacionado a ações motoras e não motoras.
A razão específica pela qual isso ocorre ainda não é totalmente conhecida. Até o momento, sabe-se que a enfermidade aparece como consequência da combinação de fatores genéticos e ambientais. E também já existe alguma evidência científica de que estes últimos incluem substâncias químicas tóxicas, vírus, bactérias e metais pesados. Herbicidas e pesticidas, igualmente, têm sido objeto de pesquisas.
Como reconhecer os sintomas?
Eles variam de pessoa a pessoa, e podem levar anos para se manifestarem. Apesar de o tremor ser popularmente associado ao Parkinson, alguns indivíduos não apresentam esse sintoma, e jamais o terão ao longo da evolução da doença. A explicação é de Eduardo Melo, neurologista do HC-UFPE.
“Nem todo paciente com doença de Parkinson tem tremor, e nem todo tremor está relacionado ao Parkinson. No entanto, existem quatro sintomas principais que caracterizam a doença, sendo um deles obrigatório, que é a lentidão, chamada pelos médicos de bradicinesia. Os demais são o tremor no repouso, a rigidez e a instabilidade postural”, completa o especialista.
Veja outras possíveis manifestações do Parkinson:
Sintomas motores;
Lentidão (bradicinesia);
Tremor (em repouso, especialmente nos braços e, por vezes, nas pernas);
Rigidez;
Instabilidade postural;
Redução do volume da voz;
Problemas de equilíbrio e quedas;
Dificuldade para engolir;
Marcha de pequenos passos;
Micrografia (redução do tamanho da letra);
Sintomas não motores;
Hiposmia (perda do olfato);
Declínio cognitivo e demência;
Hipotensão ortostática (queda da pressão decorrente da postura);
Dor;
Alucinações e psicose;
Distúrbios do sono;
TCI (Transtorno do Controle dos Impulsos);
Problemas gastrointestinais;
Disfunções sexuais e urinárias.
Quem precisa ficar mais atento?
A doença de Parkinson é considerada a segunda doença neurodegenerativa mais comum, perdendo apenas para o Alzheimer. A condição acomete cerca de 6 milhões de pessoas no mundo todo, especialmente adultos do grupo masculino acima dos 60 anos.
Apesar disso, ela também pode afetar indivíduos mais jovens, o que representa 10% dos casos. Nessas situações, as causas estão mais relacionadas à genética.
Quando é hora de procurar ajuda
De acordo com o neurologista Wilson Gomes Júnior, professor da Faculdade de Medicina da UFPR-Toledo, algumas manifestações do Parkinson podem acontecer de 3 a 5 anos antes de um diagnóstico final —o que os especialistas chamam de sintomas pré-motores.
Alguns exemplos deles são a redução da capacidade olfatória (hiposmia), a constipação, a depressão e até alterações do sono.
“Quando tais sintomas aparecem isoladamente, eles são considerados inespecíficos. Mas se a eles se somam dificuldades como o tremor antes inexistente, a lentificação do caminhar, do vestir-se, do entrar e sair do carro, dirigir ou digitar, é sinal de que uma investigação é urgente”, acrescenta Gomes Júnior.
O especialista treinado para tratar a doença de Parkinson é o neurologista, mas o clínico geral e o geriatra também poderão avaliá-lo.
Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta, o médico ouvirá a sua queixa, levantará seu histórico de saúde e fará exame físico minucioso para identificar rigidez, tremor, mudança na letra, perda do olfato, entre outros sintomas e sinais. Na maioria das vezes, o diagnóstico se baseia nessas informações, o que é chamado de diagnóstico clínico.
Esteja pronto para relatar ao médico o uso contínuo de medicamentos. Alguns deles podem simular sintomas típicos da doença de Parkinson, como os fármacos para vertigem, os psiquiátricos e antieméticos.
Embora não exista exame específico que confirme a doença, os profissionais da saúde podem solicitar exames sanguíneos complementares para identificar alterações hormonais, infecções, deficiências vitamínicas, entre outros. O objetivo é afastar outras situações clínicas que podem se assemelhar ao Parkinson.
Exames de imagem também podem ser pedidos, preferencialmente a ressonância magnética, porque ela ajuda a afastar outras doenças semelhantes, além de mostrar algumas alterações que sugerem a doença de Parkinson.
Embora já existam biomarcadores da redução da função dopaminérgica, o que é acessado por meio da medicina nuclear, esses exames ainda não são rotineiros.
Como é feito o tratamento?
“Até o momento não existe meio de reversão da doença ou controle do seu avanço. Assim, o objetivo do tratamento é reduzir sintomas e seus efeitos colaterais, garantindo o máximo de funcionalidade à pessoa com doença de Parkinson”, fala a geriatra Uiara Raiana Vargas de Castro Oliveira Ribeiro, professora da Escola de Medicina da PUC-PR.
O ideal é que o tratamento seja interdisciplinar e inclua especialistas como fisioterapeuta, psicólogo, psiquiatra, educador físico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, entre outros. Contudo, o tratamento deve se basear no seguinte tripé:
Medicamentos – alguns exemplos são o levodopa, que pode ser usado sozinho ou junto a outras medicações como os agonistas da dopamina e anticolinérgicos;
Reabilitação – fisioterapia e terapia ocupacional ajudam no controle do equilíbrio, da marcha e ainda podem incluir exercícios para melhora da resistência e força. Já a fonoterapia trabalha o distúrbio da voz e deglutição;
Exercícios físicos – essenciais, especialmente os do tipo aeróbicos, eles ajudam a prevenir quedas.
Outra possibilidade é a cirurgia. Indicada nos quadros em que haja tolerância ao levodopa ou o aumento de seus efeitos colaterais, ela não é curativa. O procedimento —chamado de estimulação transcraniana— tem tempo certo para ser feito e requer a presença de condições como a ausência de comorbidades e quadro demencial.
Mudanças na dieta podem ajudar?
A sugestão dos especialistas é que pessoas com Parkinson adotem uma dieta saudável e balanceada. O objetivo é manter a massa muscular bem desenvolvida, o que previne o risco de quedas.
Além disso, converse com seu médico sobre a eventual interação de medicamentos e alimentos. A depender da escolha terapêutica do profissional da saúde, alguns itens devem ser evitados.
O que esperar do tratamento?
A doença de Parkinson é uma doença crônica e progressiva. Como cada pessoa responde ao tratamento a seu modo, é difícil para o médico prever quais sintomas vão se agravar, bem como qual será sua intensidade no futuro.
Assim, os especialistas devem estar atentos a possíveis complicações como efeitos de altas doses dos medicamentos, por exemplo a discinesia, distúrbio caracterizado pelo descompasso dos movimentos —que passa da lentidão a movimentos serpentinosos involuntários—, além dos transtornos de impulso, como a perda do controle em relação ao sexo, compras e até jogo. Depressão, demência, problemas para engolir também são outras complicações possíveis.